Endesa não aceita que «narrativas aproveitadoras» deturpem papel das companhias elétricas
- abril 29, 2022
O diretor-executivo da Endesa, José Bogas, negou que exista em Espanha um «oligopólio» de eletricidade ou que as companhias elétricas tenham «lucros extraordinários», e disse que não aceitará que «narrativas aproveitadoras e simplistas» deturpem o papel essencial que empresas como a Endesa têm na economia.
No seu discurso na reunião de acionistas da Endesa desta sexta-feira, Bogas recordou que a companhia é líder num setor em que existem centenas de comercializadoras e empresas que geram energia.
«Portanto, nem oligopólio, nem lucros extraordinários», disse o diretor-executivo da Endesa, que avisou que «embora alguns destes slogans sejam repetidos insistentemente, não farão descarrilar um desempenho empresarial honesto e profissional com objetivos sustentáveis muito claros».
«NARRATIVAS APROVEITADORAS E SIMPLISTAS»
Segundo Bogas, «não devemos aceitar que um conjunto de narrativas aproveitadoras e simplistas sobre uma realidade complexa e regulamentada, como a do sector da eletricidade, deturpe o papel essencial que empresas como a Endesa desempenham na economia do país».
A este respeito, disse que, no caso da Endesa, a companhia é um dos principais investidores industriais em Espanha e que paga anualmente mais de 3.000 milhões de euros em impostos há diversos anos, além de gerar milhares de empregos diretos e indiretos e prestar um serviço essencial às famílias e empresas.
O diretor-executivo da empresa espanhola indicou que, com o aumento dos preços da eletricidade, que atribuiu ao preço do gás, «assistimos a momentos de um desanimador ruído crítico com o setor, imerecido na maioria das vezes e outras baseado em premissas erradas».
Bogas acrescentou que não irão parar de «explicar as coisas como pensamos que são» e mencionou a «excecionalidade ibérica» que Espanha e Portugal (os dois países nos quais a Endesa opera) conseguiram à CE para colocar um limite máximo nos seus mercados grossistas de gás destinado à geração elétrica para reduzir o custo da luz.
CUSTO DE LIMITAR GÁS PODERÁ SER DE 6.000 MILHÕES ANUAIS
O CEO da companhia recordou que o máximo será de uma média de 50 euros/megawatt por hora (MWh) durante doze meses e que, faltando apenas conhecer os detalhes da medida para avaliar as suas consequências, algumas estimativas preliminares dizem que terá um custo que poderá ultrapassar os 6.000 milhões de euros anuais.
Segundo José Bogas, este custo, tendo em conta as medidas já propostas no Decreto Lei Real 6/2022, sobre medidas urgentes no marco do Plano Nacional espanhol de resposta às consequências da guerra na Ucrânia, terá que ser assumido pela totalidade da procura.
O diretor-executivo da Endesa apontou que a companhia entende que «se procurem soluções particulares» e que «a situação merece medidas, mas continuamos a pensar que estas medidas devem ser ao nível europeu, distribuídas pelo tempo e atacando a raiz do problema, o elevado preço do gás».
Bogas disse que se conseguiu deixar para trás um ano complicado devido ao impacto da subida dos preços das matérias-primas, especialmente do gás, nos preços grossistas da eletricidade na Europa, com aumentos superiores em média a 200% em países como Espanha, Alemanha, Itália, França ou Reino Unido.
SUBIDA DE PREÇOS QUE NÃO BENEFICIA A ENDESA
O CEO espanhol afirmou que o aumento dos preços grossistas não beneficia nem fortalece a Endesa, pois toda a energia que produz é vendida a prazo, e toda a eletricidade que será produzida este ano «já está vendida na sua totalidade a um preço que nada tem a ver» com os elevados preços do mercado diário grossista do ano 2022.
«Tivemos de assistir aos atos de guerra vergonhosos e condenáveis da Rússia para que ficasse claro que o gás era a verdadeira causa do aumento dos preços da eletricidade», acrescentou Bogas, que assinalou que a empresa apresentou ideias para fazer frente aos aumentos de preços que se concentravam no problema, o preço do gás.
O executivo recordou que a Endesa prestou assessoria aos seus clientes para que optassem por soluções energéticas mais eficientes e a longo prazo para amortecer o impacto do aumento dos preços grossistas, e referiu a Tarifa Única da Endesa, que teve a adesão de mais de 30% dos novos clientes da empresa até 2022.
Bogas, que disse que o modelo energético do futuro será elétrico, apontou que apenas 1% das receitas da Endesa em 2021 tiveram origem na geração a carvão, e recordou que a empresa ainda aguarda autorização para encerrar a sua última central a carvão em solo espanhol, na localidade de As Pontes, na Corunha, que espera que chegue ainda este ano.
O principal responsável pela companhia disse ainda que a Endesa investirá 31.000 milhões de euros entre 2021 e 2030, e que mais de 12.000 milhões destes serão para nova potência renovável, de modo a poder chegar aos 24 gigawatts (GW) em funcionamento, com o qual o volume de potência renovável será o triplo dos mais de 8,4 GW conseguidos no final de 2021.
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